Missionação e mediação cultural

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Ocorreu em 16 de junho de 2014, no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, o seminário Missionação e mediação cultural, conforme programação abaixo.

10h     Apresentação dos trabalhos do Grupo de Estudos sobre Mediação e Alteridade e de pesquisas afins desenvolvidas no ICS-UL.

11h     “Hienas, missionários e crianças: um estudo sobre relatos de infanticídio no Quénia”, por Melvina Araújo.

12h     “Museus missionários: na encruzilhada entre a ciência e a religião”, por Aramis Luís Silva

Organização

João Vasconcelos e Ruy Llera Blanes

38º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais

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A pesquisadora Melvina Araújo realizará comunicação intitulada Missionários, crianças, hienas: a questão do infanticídio no Quênia no GT37 Sociologia e antropologia da moral, integrando a programação do 38º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs).

Pretendo, nesta comunicação, fazer uma discussão tendo por base as justificações (cf. Boltanski e Thévenot) utilizadas por missionários católicos e nativos Kikuyu no debate em torno da proibição do infanticídio no Quênia, no período entre os anos de 1902 a 1963. Os argumentos utilizados por uns e outros serão retirados das transcrições das longas negociações feitas entre missionários e os conselhos de anciãos, responsáveis pelas decisões jurídicas relativas aos nativos, no Quênia colonial, transcritas na publicação mensal desses missionários, a revista Missioni Consolata, para que esses obtivessem a permissão de retirar um bebê ou criança deixada num bosque próximo à área de residência de sua mãe para ser devorada pelas hienas. Quando obtinham a permissão para levá-los, eles os acolhiam nos orfanatos criados especificamente para este fim, a partir de 1905. A construção mesma desses orfanatos é também fonte para a compreensão de como esses missionários concebiam a prática de lançar crianças como “pasto” às hienas e de quais seriam as maneiras consideradas moralmente aceitáveis de tratá-las.

29ª Reunião Brasileira de Antropologia

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Pesquisadores do Gema apresentarão resultados de suas pesquisas durante a 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, que neste ano ocorrerá entre 03 e 06 de agosto em Natal/RN.

Destacamos aqui os trabalhos que serão apresentados no GT Religião e conflito, coordenado por Melvina Araújo (UNIFESP) e Cristina Vital da Cunha (UFF) e que contará com Emerson Giumbelli (UFRGS) e Eva Scheliga (UFPR) como debatedores.

Nos últimos anos, há muitos sinais sobre o interesse, compartilhado entre várias áreas, incluindo a antropologia, acerca do envolvimento da “religião” em conflitos, controvérsias, disputas e outras situações em que se encenam dramas sociais. Ora a religião é o tema desses conflitos, ora ela está entre seus agentes ou alvos. As discussões e pesquisas relativas a tais situações têm permitido revisar e problematizar noções como “liberdade religiosa”, “secularização”, “laicidade”, “tolerância” e mesmo “sincretismo”. Nesse GT pretendemos por em debate trabalhos acerca de disputas na esfera pública envolvendo atores ligados a instituições ou grupos concebidos como religiosos. Desse modo, acolheremos propostas que visem, por exemplo, analisar a participação desses atores nas manifestações que tiveram lugar nos meses de junho e julho de 2013, na definição de grupos étnicos e seus direitos, nas disputas por projetos políticos, na elaboração de limites e imbricações de religião e cultura; na construção de concepções sobre quando começa e termina a vida; em outras situações nas quais os conflitos não estejam restritos às dinâmicas internas de grupos religiosos.

 “Incidência política cristã”: considerações a partir da RENAS
Eva Lenita Scheliga
Em diálogo com a literatura que aborda as relações entre religião e esfera pública e amparada por uma pesquisa etnográfica realizada, desde 2008, junto à Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS) – uma rede que articula “organizações evangélicas que atuam na área social” – busco discutir, nesta comunicação, os sentidos e os modos peculiares de incorporação do “fazer política” ao rol de disposições engendradas em um contexto de formação de missionários protestantes e técnicos envolvidos em projetos assistenciais e de “desenvolvimento comunitário” no Brasil. Pretendo, assim, lançar luz sobre o engendramento de uma noção bastante singular acerca da “incidência política cristã” e de como, por meio desta noção, estão sendo contemporaneamente (re)negociadas algumas relações entre determinados agentes protestantes e agentes do Estado brasileiro.

Controvérsia em torno do infanticídio: atores religiosos e antropólogos em ação
Melvina Afra Mendes de Araújo
Pretendo discutir, nesta comunicação, a partir dos casos noticiados pela imprensa, sobretudo, a partir de 2010, quando da divulgação do caso de um casal de missionários evangélicos que tomou dos pais uma criança que seria destinada à morte, os argumentos levantados por antropólogos e religiosos no debate sobre a prática do infanticídio entre populações indígenas. Ao fazer isso interessa entender as justificações acionadas por esses atores tanto para defender a criminalização dessa prática quanto para propor o respeito à diversidade cultural e, por consequência, para os modos como outras culturas tratariam a questão da morte de crianças nascidas em condições consideradas anormais.

Os pentecostais do “reteté”: giras, vigílias e construção de identidade.
Clayton da Silva Guerreiro
No presente trabalho, pretendo analisar os rituais e práticas de fieis e participantes de vigílias e encontros pentecostais em igrejas localizadas na cidade de Duque de Caxias e regiões periféricas do Rio de Janeiro. A partir do problema clássico da alteridade, suponho haver um esforço por parte destes atores sociais, autodenominados “pentecostais do reteté”, com vistas à afirmação de uma identidade distinta e aproximação com movimento evangélico pentecostal. Diante das comparações que se fazem deles com cultos religiosos afro-brasileiros, esses atores se esforçam por negar as evidentes semelhanças com tais cultos, como por exemplo, umbanda e candomblé. Destarte, procuram reafirmar a identidade evangélica e pentecostal, através de alguns sinais diacríticos, ressignificando linguagens verbais e não-verbais, reafirmando princípios morais típicos da maioria das igrejas evangélicas, além de proferirem críticas às religiões afro-brasileiras. Parto da hipótese de que estes sinais são elementos importantes na construção da identidade dos “retetés”, tomados nesta pesquisa como um grupo específico no interior do movimento pentecostal brasileiro.

Religiosos, ONGs e lideranças locais: o quilombo em disputa
Sabrina Soares D’Almeida
O envolvimento de atores religiosos na busca por reconhecimento de direitos de grupos étnicos e culturais tem se apresentado como um interessante tema a ser pesquisado. Além de sua participação na organização das mobilizações desses grupos em torno das demandas por reconhecimento, esses atores estão envolvidos também em disputas classificatórias em torno de algumas categoriais. Esse é o caso, por exemplo, da região do Vale do Ribeira onde religiosos, membros de organizações não-governamentais e os próprios membros dos grupos étnicos estão envolvidos em permanentes disputas classificatórias em torno da categoria quilombo. A presente proposta tem como objetivo identificar quais são os elementos em disputa na definição dessa categoria e quais os argumentos acionados pelos religiosos para sustentar sua posição nessa disputa.

Sublinhamos também que nos dias 05 e 06 de agosto a pesquisadora Eva Scheliga coordena sessões as Comunicações coordenadas – eixo Antropologia da religião.